Dois novos estudos demonstram que os acontecimentos de arrefecimento e aquecimento climático antes da Era Industrial foram em muito menos escala do que o fenômeno global que acontece atualmente. Os trabalhos foram publicados nas revistas Nature e Nature Geoscience.
Os principais eventos de mudança climática registrados nos dois últimos milênios foram a Pequena Era do Gelo (entre os séculos XIV e XIX, no hemisfério norte) e o Período Quente Medieval (entre o século X e XIV, na Europa). Mas são localizados e pontuais em comparação com o aquecimento que estamos observando atualmente.
Photo Pixabay |
Os objetivos climáticos do Acordo de Paris
Para chegar à esta conclusão, os investigadores estudaram 700 registos de temperaturas históricas, que incluem características de árvores, sedimentos, corais, depósitos em cavernas e documentos feitos por pessoas e registros de equipamentos, ficando assim com um retrato global das mudanças climáticas deste a época dos romanos.
Para os que pensam que a Pequena Era do Gelo foi um evento global, uma extensa análise publicada na revista Nature não encontrou nenhuma evidência que confirme esta ideia. O que os pesquisadores encontraram foram temperaturas baixas em locais e épocas diferentes, mas mesmo assim só atingiu metade do planeta
Já no Período Quente Medieval, apenas 40% da superfície da Terra atingiu temperaturas altas.
Assim, a variação atual se destaca desses outros eventos. Este é o período mais quente dos últimos 2 mil anos, e acontece em 98% do globo.
Photo Pixabay |
Podemos estar a retroceder climaticamente 50 milhões de anos
Já o estudo publicado na revista Nature Geoscience examinou as causas destes acontecimentos climáticos, e concluiu que o aquecimento e arrefecimento pré-industrial aconteceram de forma primária por influência vulcânica.
As pesquisas das duas entidades concluem que esses eventos antes da Revolução Industrial eram locais e curtos, sem produzir mudanças a nível global. A mudança climática atual, porém, está acontecendo numa escala muito maior e não pode ser explicado apenas por variáveis naturais.
As Nações Unidas acabam de publicar um relatório que alerta para um “Apartheid Climático” conforme as mudanças climáticas se intensificam.
Philip Alston, especialista em pobreza extrema e direitos humanos da ONU, explicou no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Génova que milhões de pessoas vão passar por insegurança alimentar, migração forçada, doença e morte neste século, devido a crises causadas pelas mudanças climáticas.
“Isso pode conduzir mais de 120 milhões de pessoas para a pobreza até 2030. A mudança climática ameaça desfazer os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, saúde global e redução de pobreza”, diz ele.
Os maiores riscos são para as populações mais pobres dos países em desenvolvimento. Essas nações nem sequer são as mais responsáveis pela poluição por CO2, mas são as que vão sofrer mais.
“As pessoas em situação de pobreza tendem a viver em áreas mais suscetíveis às mudanças climáticas e em habitações menos resistentes. São elas que perdem relativamente mais quando afetadas, e que têm menos recursos para mitigar os efeitos; e são as que recebem menos apoio de redes de segurança social ou do sistema de financiamento para prevenir ou se recuperar de catástrofes”, diz o relatório da ONU.
Eles estão mais vulneráveis aos desastres naturais que trazem doenças, destruição das plantações, alta de preço de alimentos, morte ou incapacidade.
|
As alterações climáticas poderiam tornar a Sibéria mais habitável?
Isso tudo ajuda a explicar porque apenas neste século atual, pessoas de países mais pobres têm morrido em desastres numa taxa até sete vezes mais alta que cidadãos de países ricos. Este fenômeno será exacerbado conforme mais desastres naturais acontecerem.
“Arriscamos um‘apartheid climático’ em que os ricos pagam para escapar do aquecimento, fome econflito enquanto o resto do mundo é abandonado para sofrer”, alerta Alston.
O relatório identifica falhas das lideranças dos governos e do setor privado como fator principal por trás da falta de ação para diminuir a velocidade a que as mudanças climáticas estão acontecendo.
A solução, explica Alston, é “fazer mudanças estruturais profundas na economia mundial”, adotando uma economia sustentável, ao mesmo tempo em que se oferece uma rede de segurança para trabalhadores que perderem seus trabalhos neste meio tempo.
O relatório admite que esses são desafios enormes, mas que não há outra alternativa. “Algumas pessoas e países ficaram incrivelmente ricas a custa de emissões sem pagar pelos custos disso. Ações climáticas não devem ser vistas como um impedimento de crescimento econômico, mas como uma motivação para dissociar o crescimento econômico das emissões e extração de recursos”, diz Alston.
Fonte//Phys ScienceAlert
Sem comentários:
Enviar um comentário